Deixe eu te fazer uma pergunta simples: quem você acha que vai ser o maior prejudicado com essa tarifa de 50% que os Estados Unidos pretendem aplicar sobre os produtos brasileiros? Você já parou pra pensar nas consequências reais disso, ou ainda está naquela fantasia de que tudo vai se resolve?
Porque é bom encarar os fatos. O que vem pela frente é desolador para o empreendedor nacional. Não é teoria da conspiração, nem pessimismo crônico. É aritmética econômica.
Num primeiro momento, os produtos que seriam exportados para os Estados Unidos vão ficar encalhados por aqui. Super oferta no mercado interno. Parece bom? Talvez. Os preços vão despencar. O consumidor, num primeiro instante, vai comemorar. Tudo mais barato. Promoção pra todo lado. Só que essa farra tem prazo de validade.
Porque enquanto o consumidor se alegra com a liquidação, o empresário entra no prejuízo. Com os custos nas alturas e os estoques encalhados, as fábricas começam a parar. Os que já estavam no limite quebram de vez. Os que tinham alguma gordura, começam a demitir pra tentar sobreviver. E assim começa a quebradeira em cascata.
Daí vem o efeito colateral: desemprego em massa. Quando a economia trava, os impostos desaparecem. Menos arrecadação, menos serviços, mais caos. Estados e municípios entram em colapso. O Brasil perde sua espinha dorsal produtiva. E aí, quando faltar arroz, cimento, remédio ou peça de trator, vamos importar de quem? A que preço? Com que moeda?
Porque aí está outro detalhe que ninguém quer encarar. No mundo das finanças, só os Estados Unidos têm o privilégio de imprimir a própria moeda e ainda assim manter a confiança internacional. Nós, quando imprimimos dinheiro, criamos inflação e miséria. Quando o buraco abrir, não vai ter âncora. Não vai ter lastro. Só desespero.
Essa tarifa de 50% é um baque violento em um país que já cambaleia entre juros altos, burocracia e insegurança jurídica. Quando o último pequeno empresário fechar as portas, talvez alguém acorde. Mas aí será tarde. Muito tarde.
Empreendedor e suinocultor, Fernando Lage é também articulista com olhar atento para o agronegócio.